LETRA ESDRÚXULA

"Colher de chá", de autoria de Tony Osanah, e gtavada por
Ronnie Von em 1977, tem uma das letras de música mais
esquisitas que eu conheço.

Da melodia eu gosto, tanto é que a conservo no meu arquivo
musical. Se você não a conhece ou não lembra, pode seguir
o link abaixo, que vai ter uma boa audição no You Tube:

http://www.youtube.com/watch?v=xuPELKoBq7w

A letra casa bem com a melodia, eufonicamente não é
destoante e, gramaticalmente, não mostra deslizes gritantes,
porém, quanto à concatenação dos versos, é quase nula.
A gente fica procurando o fio da meada, e, quando pensa
que entendeu alguma coisa, lá vem bomba!
Vejam-na inteira:

COLHER DE CHÁ
Tony Osanah

Quem manda no terreiro é Ogum,
Quem manda no universo é Oxalá.
O Homem chegou a Lua,
Porque Deus deu colher de chá.
Se o Homem a Mercúrio quer chegar,
Licença vai ter que pedir,
Melhor não pensar em exigir,
O sol pode até se esquentar.
Seria bom se alguém pudesse chegar lá,
Pra gente aqui na terra saber
Qual é a transa, meu Pai, qual é a transa.
É preciso ter pureza para entrar.
Mas o destino é o Pai da morte,
Quem manda no Universo é Oxalá,
Ninguém sabe qual é seu caminho,
Mas com fé a gente ainda chega lá.
Ninguém sabe qual é seu caminho,
Mas com fé a gente tem colher de chá.

- Ora, tesco, o sentido geral está até muito claro: O Homem não
deve ficar se metendo a fazer tudo que lhe der na telha, que o
feitiço pode se voltar contra o feiticeiro.

Certo, certo, se vê aí a velha concepção de "Menino, não mexe
aí, Deus tá vendo e vai castigar!". Claro que não concordo com
essa ideia, mas admito perfeitamente que a expressem.
Não é a isso que me refiro.

- Qual é sua queixa, então?

É tanto a justaposição dos versos quanto ao sentido estrito de
cada verso. Por exemplo, que "Quem manda no universo é
Oxalá" tudo bem, não importa o nome que deem, reconhece-se
uma autoridade máxima, mas que é que "Quem manda no
terreiro é Ogum" tem a ver com isso? O terreiro não é o meu,
tanto faz que mande nele "Ogum, Oxum, Oxummaré, todo o
pessoal, manda descer pra ver"... Opa! Isso é outra música!

- "Filhos de Gandhi", de Gilberto Gil.

É. Se por "terreiro" pretende simbolizar a Terra, onde o homem
teria permissão pra fazer seus malfeitos, pois "Ogum" poria
menos restrições, enquanto que no "universo", sob a gerência
de "Oxalá", ele não pode fazer peraltices, isso não está
explícito na letra, nem é implicitamente entendido.

- Ih, tesco, cê tá muito complicado! Seja mais explícito.

Não, que eu não vim dar aula de filosofia, Vamos pra outra.
"Se o Homem a Mercúrio quer chegar
Licença vai ter que pedir".
Muito bem, onde fica o Departamento de Licenças, pra
humanidade ir até lá, quando quiser viajar pra Mercúrio? E a
quem pedir licença? Essas coisas não são explicadas na
letra e, supostamente, são importantes.

- Você tá mesmo implicante com o Tony, né?

Não, é que o Osanah tá escondendo o jogo. Veja:
"Seria bom se alguém pudesse chegar lá
Pra gente aqui na terra saber
Qual é a transa, meu Pai, qual é a transa."
Olhaí, ninguém nem sabia que Mercúrio tem a resposta da
"transa". Aliás, nem se sabe dessa "transa". Isso deve ser
corrupção grossa! Se a Veja e a Folha de São Paulo se
metem nisso, em duas semanas contam tudinho,
incriminando o PT, naturalmente.

- Você está muito otimista.

Pode ser. Mas agora vêm as duas 'pérolas' da letra. Pesca aí:
"É preciso ter pureza para entrar.
Mas o destino é o Pai da morte"
Entrar onde, meu Oxalá do céu? Que máfia será essa?
E essa afirmação gratuita sobre a paternidade da Morte?
Tem exame de DNA pra comprovar? De onde ele tirou isso?
Será que são as mesmas fontes do Policarpo?

- Peraí! Isso é uma CPI?

Não é não. Mas com tanta afirmação sem provas, só posso
pensar, no mínimo, em contravenção.

- Ah, tesco, é melhor a gente parar por aqui, se não a Polícia
Federal vem investigar.

É mesmo! Mas que a letra é esquisita, é.

Abraço do tesco.