quinta-feira, 20 de setembro de 2012
TARZAN
Tenho lido alguns livros de Tarzan, nestes últimos sete anos e,
agora me dei conta, por chamadas na internet, que o
personagem está fazendo cem anos de nascimento.
É, não é só Luiz Gonzaga que completa um século, e,
igualmente a este, não consegue passar o bastão adiante.
Apesar da frase "De pai pra fio derna de 1912" (A vida do
viajante), Gonzaguinha não sobreviveu a Gonzagão. Também
Korak, o filho carnal de Tarzan, não emplacou como
personagem autônomo, apesar de algumas incursões em
quadrinhos.
Ressalto "carnal" porque ,nos livros, Tarzan e Jane têm filho,
o que não lhes é permitido nos filmes, a censura não deixou
porque eles não se casaram na sociedade "civilizada", e
tiveram que adotar um.
"Pode isso, Reginaldo?"
Mas você há de me perguntar...
- Não. Deixa que eu pergunto! Que negócio é esse? Você, tão
ocupado em literaturas importantes, sérias, lendo besteiras
como Tarzan?
Ai! Chegou quem faltava! Me deixa sossegado, ôme! Não
posso expor nada aqui que você já vem esculhambando o
assunto? Os leitores já são poucos, e você fica 'espantando
o freguês'?
- Deixe de mumunha e responda logo: Não tem coisa séria
pra ler não?
Ainda que fosse sem importância, 13 livros em sete anos,
não "ocupa espaço". Além disso, cultura não´tem só um
aspecto. A própria diversidade já é um aspecto cultural.
- Esse negócio de 'diversidade' é pra ecologista. Falo de
literatura.
Não é assim não, mas vá lá, vamos pra literatura. Primeiro,
leitura não é só estudar, ou antes, estudar não se restringe a
matérias didáticas, como você parece pensar. Lendo-se de
tudo é que se consegue uma cultura variada. Como disse
outro dia, leio Paulo Coelho e Clarice Lispector, de
Dostoiévski a Sidney Sheldon. Não é o autor que nos faz
rebaixar nossos pensamentos ou nossas atitudes, mas o
que extraímos dessas leituras.
- Bem, até aí pode ser...
Pode ser nada, é! Em segundo lugar, Edgar Rice Burroughs
escreve bem. Ele tem um modo dinâmico de contar os fatos
mesclando muita ação com algumas conclusões filosóficas.
Muitas de suas conclusões são equivocadas, é verdade, mas
temos de considerar a época em que escreve. Não somos
tão isolados da atualidade que nos cerca, quanto pensamos.
- Sim, mas que proveito se tira de uma leitura dessas?
Em terceiro lugar, nunca fui chegado a super-heróis, desses
que tem alguns poderes que os outros mortais não têm.
Verdade...
- Ih! Pulou minha pergunta...
Calma, tudo a seu tempo. Verdade que Burroughs dota
Tarzan de habilidades excepcionais, apenas por ter sido
criado por macacos e ser, geneticamente, um "nobre" inglês.
Nisso, Burroughs se torna contraditório, Tarzan herda
"virtudes" de pais biológicos que ele nem conheceu, e
adquire 'capacidades especiais' por ter sido criado na selva:
Tarzan, em força, só perde pra Hércules, tem agilidade e
olfato de um felino, tem extremada capacidade de
observação e só falta voar, ao se transportar pelas árvores.
Além de tudo, domina a 'linguagem' dos animais, que é
articulada e organizada, como qualquer linguagem humana.
- Bom, é personagem de ficção mesmo.
É. Mas, apesar desses 'poderes', Tarzan é quase verossímil,
o que tempera o sabor de suas aventuras. Aí é quando
aparece o 'proveito' , que você reclama. É o prazer da leitura
de uma trama bem concatenada, quase sem falhas de lógica.
O que se faz diferente das obras em voga no momento, em
que prepondera a fantasia pura, o "deus ex-machina", a magia.
- Só isso?
E você acha pouco? Pois, pessoalmente, eu acho é que
anda faltando leituras desse tipo, em que as coisas são
conseguidas por muito esforço pessoal, não por um passe
de mágica, com discutíveis méritos dos "herois". Parecem
até os "heróis" de Pedro Bial, no "Big Brother", só deitar no
sofá e apreciar o "Roletrando"!
- Sei não, prefiro Harry Potter.
Pois fique com seus bruxos que, lendo Tarzan, pelo menos,
posso chegar a ilações e deduções sócio-antropológicas
interessantes, mesmo com uma visão eurocentrista e
preconceituosa da África. Coisa que não acho que seja
viável nessas leituras atuais.
- Vixe! Euro? Como está a cotação?
Aaaai! Tem hora que dá dor-de-cabeça!
Abraço do tesco.
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3 comentários:
Eu nem sei se é preciso chegar a ilações: uma boa leitura, que te transporte pra selva ou onde seja, já cumpriu o seu papel! :-)
Tesco, muito gostoso esse post. Nunca li Tarzan e me deliciei com a sua admiração.
Beijotescas
Dantinhas, que coisa boa sua escrita, cheguei as risadas, Chico
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