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segunda-feira, 9 de maio de 2011

VERSÃO E TRADUÇÃO

Nos comentários de "Versão de "Smile"", minhas queridas
hiscla (Voce fez uma outra versão...!) e Yvonne (Gostei da
sua versão), expressaram uma mesma ideia subjacente:
Que eu tinha apresentado uma versão para "Smile".

Como não observei na ocasião e não repliquei nos
comentários, venho esclarecer as coisas neste post:
Não fiz nenhuma versão!

Dei apenas uns toques numa tradução literal.

A versão seria uma letra que se encaixasse no ritmo imposto
pela melodia, isso, de modo algum, pode ser
conseguido
com a 'minha' tradução.

Se não acreditam, tentem cantar a tradução seguindo a
melodia:
http://www.youtube.com/watch?v=bwp3y-w2Cfs&feature=fvst .
Verão que é uma 'missão impossível'.

(Aproveitem pra conferir as cenas finais de "Modern Times",

onde a melodia é ouvida e a legenda mostra o pensamento de
Carlitos, (Why the use of crying?) que inspirou os autores da

letra: http://www.youtube.com/watch?v=Ps6ck1ejoAw ).

Como disse no post citado, versão de letra em inglês não é
coisa fácil. Vejam, por exemplo, o verso inicial desta mesma
letra: 'Smile though your heart is aching'.
Aqui, embora a mensagem seja grande os sons são curtos.
Ouve-se isto: "Smáil' dô iór rarts êikin".
(O 'l' de smile não tem som de 'u', e é uma consoante apoiada
na vogal anterior, por isso a registrei com apóstrofo, para não
ser pronunciada como 'li' ou 'le').

Fica notabilizada aqui a concisão que caracteriza a língua
inglesa. Não há como encaixar a tradução em português
(Sorria, embora seu coração esteja dorido) na métrica original.
Por isso, a versão (aí sim) do Braguinha é perfeita:
Sorri, quando
a dor te torturar!

Como salientei no post, Braguinha fez uma versão muito boa,
magnífica, pode-se dizer, nas três estrofes iniciais, só
escorregou
na quarta, onde trai a filosofia encontrada na
letra original.

Para uma versão que procurasse ser mais fiel à letra original,
o versador teria que fazer cortes enormes na tradução,
provavelmente confrangendo seu coração de poeta.
Neste mesmo verso inicial, veja como poderia ficar a tradução
depois de versada.

- Eita! Disseram que tesco fez versão, e lá vem ele fazendo
versão!

Calma, não vou fazer versão, vou somente dar uma amostra.

Primeiro fica difícil conservar o tratamento na terceira pessoa
do
singular, como se usa habitualmente no Brasil.
Abandona-se o 'você' e adota-se o 'tu'. Por isso 'sorria' vira
'sorri'. Gramaticamente seria o correto e isso era observado

antigamente.

- Esse negócio de gramática já tá superado!

Deveria estar, mas não é bem assim.
Em segundo, 'embora' deve ser trocado por 'mesmo', que
tem uma sílaba a menos. A seguir, tem-se que extirpar 'seu

coração esteja', que é uma expressão muito longa.
Aí o próprio coração do versador começa a doer.
É uma cirurgia muito forte.

- Isso pode levar a um infarto!

Bem, tudo é possível.

O 'dorido' pode permanecer, mas o 'mesmo' inserido chama
um 'que' pra completar a métrica. Assim, o que resta da
tradução do verso inicial é: "Sorri, mesmo que dorido",
compatível com "Smáil' dô iór rarts êikin".


- É. Dá pra cantar.

Dói sim, fazer uma versão tentando manter-se fiel ao texto
original. Isso raramente é observado com línguas neo-latnas.
Como pode ver-se em "Nessuno mi puó giudicare nemmeno

tu", original italiano, por exemplo. Esta gerou uma versão
que é uma tradução com ligeiras adaptações, como se pode

ver em "!Ninguém poderá julgar-me, nem mesmo tu".
A única mudança perceptível é o tempo do verbo, que
passou a futuro em português.

- Assim é canja, até eu podia fazer. Se soubesse italiano, claro.

Do espanhol também se pode fazer versões com relativa
facilidade. Veja, como exemplo, "La historia de mi vida":
"Eres el amor con que soñé / eres la ilusión que me forjé
eres hoy mujer para mi vida / la prenda más querida /
la más tierna ilusión".
Na versão brasileira de Lourival Faissal, "Minha história",
cantada por Emilinha Borba, virou:
"És o doce amor que desejei / És a ilusão com que sonhei
E hoje és todo bem da minha vida / a jóia mais querida /
a mais linda emoção".
Aí, o próprio vocabulário original sugere termos para a

versão.

- Aí tá mais complicado.

Não, complicou não, ampliaram-se as perspectivas.
Complicação pode surgir com o francês.
Em "Tous le garçons et les filles", que não conheço versão em
português que seja coerente com o tema, as coisas ficam mais

difíceis. No verso inicial mesmo, "Tous les garçons et les filles
de mon âge", uma tradução literal (Todos os meninos e
meninas da minha idade) não entraria na métrica. Poderia ficar
entendido com uma tradução, digamos, mais popular, como
"Todos os 'boys' e as 'girls' como eu", mas que não soa bem

como uma letra em português. Mesmo assim, as dificuldades
são menos evidentes que o caso de letras em inglês.


- Ei, o romeno também é língua neo-latina.


É verdade. Mas não existe tradição de música romena no
Brasil. A única letra em romeno que nos chegou, foi

"Dragostea din tei", que nos legou a 'versão' do Latino, onde
"Vrei sa pleci dar nu ma, nu ma iei" virou "Hoje é festa lá no
meu apê", que não tem nenhuma ligação com o sentido da

letra original.

Porém, se houvesse maior fluxo de música (e letra) romena
mostraria, creio, tanta dificuldade quanto a de letras inglesas,
pois o romeno também se mostra cheio de palavras com
curta sonoridade.


Mas versão de música com letra em inglês não é coisa
impossível. Vocês conhecem várias boas versões, embora
na maioria delas, alguma coisa da história contada pela letra
original fique obscurecido na versão.


Por exemplo, uma versão muito boa e que emplacou bem no
Brasil, foi "Diana", original do Paul Anka, bem conhecida na
voz de Carlos Gonzaga.

No entanto, uma coisa básica na letra original e que a versão

não toca, nem de longe, é que o enamorado é bem mais jovem
que a moça: "I'm so young and you're so old", provavelmente

uma mulher madura. Isso não desmerece as versões, muitas
delas têm
até melhoramentos em relação ao original.

Como amostra de uma versão em que a tradução seja
razoavelmente respeitada, tenho esse texto que construí em

2004, época do sucesso por aqui, da música "The reason",
da banda
Hoobastank:
http://www.youtube.com/watch?v=fV4DiAyExN0 .

Abraço.

=======================
THE REASON
(Hoobastank)


I'm not a perfect person
As many things I wish I didn't do
But I continue learning
I never meant to do those things to you

And so I have to say before I go
That I just want you to know


I've found a reason for me
To change who I used to be
A reason to start over new
and the reason is you


I'm sorry that I hurt you
It's something I must live with everyday
And all the pain I put you through
I wish that I could take it all away

And be the one who catches all your tears
That’s why i need you to hear


I've found a reason for me
To change who I used to be
A reason to start over new
and the reason is you [x4]


I'm not a perfect person
I never meant to do those things to you
And so I have to say before I go
That I just want you to know


I've found a reason for me
To change who I used to be
A reason to start over new
and the reason is you


I've found a reason to show
A side of me you didn't know
A reason for all that I do
And the reason is you
____________________________________________

TRADUÇÃO LIVRE

Eu não sou uma pessoa perfeita
Tem muitas coisas que eu não gostaria de ter feito
Mas eu continuo aprendendo
Eu nunca quis fazer aquelas coisas pra você

E então eu tenho que dizer antes de ir
Que eu só quero que você saiba


Eu encontrei uma razão pra mim
Pra mudar quem eu costumava ser
Uma razão pra recomeçar
e esta razão é você


Eu sinto muito se te magoei
É algo que preciso conviver todo dia
E toda dor pela qual te fiz passar
Eu gostaria de poder joga-la toda fora

E ser aquele a secar todas suas lágrimas
Por isso que preciso que você ouça


Eu encontrei uma razão pra mim
Pra mudar quem eu costumava ser
Uma razão pra recomeçar
e esta razão é você'

__________________________________
MINHA RAZÃO
(versão do tesco)


Eu não sou a perfeição
Há coisas que eu fiz e não gostei
Sei que um dia aprenderei
O que lhe fiz já sei não se faz não

E mesmo assim não foi de coração
É um fato que agora lhe direi


Recomeçar não é nenhum prazer
Preciso de uma razão para viver
E acho que já deu pra perceber
Que a razão é você


Lamento o que lhe magoou
Com isso deveremos conviver
E a dor por que você passou
Eu quero ser capaz de remover

E tê-la mais uma vez a sorrir
Por isso digo antes de ir


Recomeçar não é nenhum prazer
Preciso de uma razão para viver
E acho que já deu pra perceber
Que a razão é você (4x)


’Inda não é a perfeição
Há coisas que eu fiz e não gostei
E mesmo assim não foi de coração
É um fato que agora lhe direi


Recomeçar não é nenhum prazer
Preciso de uma razão para viver
E acho que já deu pra perceber
Que a razão é você


Achei uma razão para mostrar
A todos que agora eu vou mudar
E saibam o que agora vou dizer
Minha razão é você.

* * *

4 comentários:

Anônimo disse...

Puxa Tesco, escrevi um comentario imenso que simplesmente sumiu. Que raiva! Depois escreverei um e-mail sobre o assunto. Beijotescas

tesco disse...

É verdade, Yvonne, isso acontece com frequência em todos os hospedeiros de blog. Pra evitar essa decepção eu costumo copiar os comentários antes de enviá-los, mas às vezes esqueço e, normalmente, é quando acontecem esses apagões. Arrrrrgh! Sobraria até pro Bin Laden, se ele aparecesse no momento! Eisos.
_Beijos.

Anônimo disse...

Tesco, tentarei de novo. Seu post me fez enveredar por outro caminho que é a tradução de livros. No meu comentário anterior, disse que li Fausto e acabei desistindo por duas razões:

- poesias rimadas traduzidas do Alemão para o Português.

- excessivo número de notas do tradutor esclarecendo não o livro e sim a tradução.

Acabei cansando, porque além de ser um clássico muito chato, fiquei sem saber se o mérito seria do Goethe ou do tradutor.

Um dos livros do grande Jorge Amado tem um personagem pobre e analfabeto que disse uma frase: fulano maluqueceu. Nunca esqueci. Veja só, o verbo maluquecer, que não existe, traduz a ignorância do personagem e cai como uma luva.

Tenta imaginar a dificuldade de traduzir essa situação para o Sueco. Uma realidade que não é a daquele povo com um personagem que provavelmente não habitaria naquele país.

Sou contra traduções? De forma alguma, porque só assim podemos conhecer os clássicos universais, mas a qualidade deve cair.

Quanto mais regional um livro, mais universal é a história, mas existem países e países. Paulo Coelho pode ser traduzido até para uma língua alienígena, mas não consigo imaginar um Jorge Amado.

Outra coisa que me lembrei agora. Machado de Assis, o maior escritor brasileiro, traduziu "O corvo" de Edgar Allan Poe. Não li nenhum dos dois, mas tive um chefe que leu e disse para mim que a tradução ficou infinitamente melhor do que o original. Tá vendo o delicioso perigo?

Prá terminar, Woody Allen que não faz muito sucesso nos EUA e sim na Europa disse uma vez em tom de gozação que esse sucesso se deve aos tradutores que fazem as legendas. Lógico que é brincadeira, KKKKK.

Beijotescas

Yvonne

tesco disse...

É isso, Yvonne, parece que a dificuldade hoje é somente semântica, mas traduzir pesia antiga, com exigências de rima e/ou métrica, continua uma tarefa dificílima. Li o "Fausto" sem me preocupar com esses detalhes, apenas para conhecer a história, obsevei então que a tradução do Castilho, a que li, me pareceu muito boa. Quanto ao enredo em si, não apreciei tanto.
Deve ser o mesmo caso de "O corvo", de Poe. As traduções, tanto do Machado, quanto do Pessoa (Fernando também traduziu) ficaram ótimas, mas dizer que ficaram melhores que o original, é um ponto de vista muito relativo: A cultura a que é destinada a obra, tem aspectos muito diferentes da nossa. O original de "O corvo" é imbatível para a cultura de língua inglesa. Daí, "Fausto" deve ser uma maravilha... para a língua alemã.
A proposito, Milan Kundera observa, numa edição mais recente de "A insustentável leveza do ser", que as primeiras traduções do tcheco para o francês,têm mais o estilo do tradutor que o seu.
Por isso torna-se inevitável acomodar-se ao ditado: "Traduttore, tradittore".
_Beijos.