Provavelmente você nunca tinha ouvido falar
no livro “Casos do prof. Pável”, um dos que
constaram no sortesco 51. Até adquiri-lo, eu
também não o conhecia.
Eu pretendia postar um trecho do livro pra se ter
uma ideia do que ele tratava, mas o período foi
ingrato à conexão e o projeto não se realizou.
Por isso, estou publicando agora este caso e,
mesmo que não se possa ler o livro todo, a
ilustração é bem interessante.
A SEMENTE GERMINOU
Há algum tempo, lá em minha casa, uma jovem,
ex-a/una, levou-me seu namorado, desejoso de
orientação. O rapaz vivia angustiado com um
problema, que julgava não ter solução.
Em outras palavras: o moço se sentia incapaz,
diante de si mesmo. Temia enfrentar-se, julgando
suas dificuldades imponderáveis.
Ele era inteligente e as palavras de consolo não
lhe bastavam. Sua pergunta era persistente:
- Onde encontrarei uma. solução?
- Onde? - Também pensava eu...
Tivemos uma razoável conversa inicial. Lá pelas
tantas, saí da sala. Voltei com uma . laranja.
Cortei-a. Tirei uma semente.
Mostrando a semente, perguntei ao jovem:
- O que é isto?
- Uma semente de laranja.
- Ora, preste atenção: o que é que eu tenho na mão?
- Continua sendo uma semente de laranja.
- É pouco ... Você está sendo muito vago ...
Reflita melhor: o que é que eu tenho na mão?
- "Tá bem, tá bem .;" afirmou o jovem. Aí está
o embrião de um pé de laranjas, resultante de
um óvulo, que foi fecundado pelo grão de pólen.
E tem mais: o embrião está envolvido pelo
endosperma e por tecidos protetores.
Ah! Posso dizer, ainda, que tem 20% de água,
porque foi colhida agora. Mais tarde, exposto
ao ar, terá apenas! 10% de água.
* * *
Abro parênteses, aqui, para explicar que o jovem
em questão se preparava para o vestibular de
agronomia. Eu estava, portanto, atingindo seu
centro de interesse.
* * *
Voltando ao jovem, aproveitei seu raciocínio e
continuei a conversa:
- Muito bem, muito bem ... Meus parabéns...
Mas eu acho que ainda foi pouco ... Seja mais
sutil, mais abrangente.
... O que é que eu tenho nas mãos?
A resposta do rapaz foi seca e imediata:
- Você tem o embrião de uma laranjeira, capaz
de germinar, quando plantado. O que você está
segurando é o potencial de um novo pé de
laranjas...
- Só? Somente isto?
- E o que é que você Quer mais? Já sei. .. Dê-me
uma folha de papel.
(O jovem começou a raciocinar):
'- Este pé, em sua primeira colheita, produzirá
umas mil laranjas. Cada laranja, por hipótese,
terá vinte sementes. Plantando todas as sementes
da primeira safra, terei vinte mil pés de laranja.
Isto significa que ... tá bom... tá bom...
Você, na mão, tem INFINITOS PÉS DE LARANJA.
- Excelente - exclamei. Você se mostrou bastante
esperto... Tanto, que merece uma segunda
pergunta:
EU POSSO PLANTAR ESTA E AS DEMAIS
SEMENTES EM QUALQUER LUGAR, DE
QUALQUER MODO?
O jovem, seguro de si, respondeu-me:
- Para que esta e outras sementes germinem, é
preciso, na verdade, que sejam satisfeitas várias
condições. Destas condições, umas dependem
da própria semente; outras, do local de plantio, e,
assim, por aí se vai longe.
Seguiu-se um silêncio misterioso.
De repente, o jovem exclamou:
- Semente fértil só germina em terra fértil!
Completei, depressa:
- O homem é potencial do Infinito. Cada Espírito
traz, consigo, o gérmen Que o faz crescer, na
busca da Perfeição.
Porém, nada vem ao acaso: é preciso plantar,
deixar germinar... e colher! A solução daquilo que
procuramos, em verdade, está em nós mesmos.
Cada esforço produz uma descoberta. Cada
descoberta nos leva a um esforço maior, deixando
perceber que o limite não existe. Somos o
potencial do Infinito. Para você, meu jovem, resolver
seu problema, pense nas suas próprias palavras:
"...Semente fértil só germina em terra fértil!".
Qualquer um de nós pode torna um solo fértil mas,
só o próprio homem, consigo mesmo poderá
transbordar sua fertilidade psíquica.
- É... - completou o rapaz´- Você me maltratou
carinhosamente... Não deu soluções, mas
participou. Ofereceu-me um tempo, precioso.
Se eu cresci, você cresce também...
***
Aproveito esta narrativa para uma reflexão com
os leitores:
Dos conceitos de Educação, o mais dinâmico e
transformador é o etmológico: (ex + ducere) por,
para f.ora, o que está incubado.
Postulando que o homem é semente de Deus,
educar se torna equivalente a libertar, ou seja,
fazer germinar a semente.
* * *
Numa véspera de Natal a história se completou.
Os dois jovens me visitaram. Traziam nas mãos
um pequeno vaso plantado:
- É. um pezinho de laranjas, professor!
A sememte germinou! Muito obrigado por aquele
dia!
(Edson Pável Bastos, "Casos do Prof. Pável").
Abraço do tesco!